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Golpe 64: Há 50 Araras também teve a sua "Marcha da Família"

Evento aconteceu na cidade no dia 19 de abril de 1964 para celebrar o golpe civil-militar que depôs o presidente Jango

 

A "Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade" é considerada um dos antecedentes históricos que envolveram o golpe civil-militar de 1º de abril de 1964. Esse fato foi bastante lembrado pela imprensa nacional no último mês de março. Em Araras a "Marcha da Família" foi realizada no dia 19 de abril, tendo completado 50 anos no último final de semana.

Em muitos municípios, como em Araras, mesmo após a deposição do presidente João Goulart essas manifestações continuaram sendo realizadas para comemorar a chamada "revolução".  Mas a "Marcha" mais significativa ocorreu antes do Golpe, no dia 19 de março de 1964, na cidade de São Paulo. Segundo portal Opera Mundi, estima-se que entre 500 mil e 800 mil pessoas partiram às 16h da Praça da República em direção à Praça da Sé, no Centro, manifestando-se em resposta ao emblemático comício de João Goulart, seis dias antes, defendendo suas reformas de base na Central do Brasil.

Após a marcha realizada na capital, outras manifestações semelhantes ocorreram no interior do estado de São Paulo. Segundo o livro “A ditadura militar no Brasil - A história em cima dos fatos” ocorreram 49 marchas em todo o país até o dia 8 de junho de 1964, tendo algumas marchas após o golpe recebido o nome de "Marcha da Vitória".

Em nossa cidade a Marcha da Família, realizada no dia 19 de abril de 1964, recebeu destaque na edição do jornal Tribuna do Povo do mesmo dia. Foi anunciada que a Marcha contaria com a presença do ministro da Agricultura, Oscar Thompson Filho. “A exemplo de numerosíssimas cidades de todo Estado, Araras pelas suas dignas autoridades e pelo seu laborioso povo, promoverá na tarde de hoje, com início previsto para as 16 horas, a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, numa eloquente demonstração de acendrado espírito cívico e numa carinhosa manifestação de reconhecimento pela conquista da democracia em terras do Brasil (...) E, hoje à tarde, na Praça Narciso Gomes todos os ararenses – homem, mulheres, jovens e crianças – estarão de mãos dadas, com entusiasmo cívico e fervor cristão, participando da grandiosa Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, patenteando seu apego à Democracia, única forma de governo compatível com as liberdades humanas (...) O perigo a que estivemos expostos, era dos mais graves e dos mais terríveis. Com as bênçãos de Deus e com o amor que nos dispensa a Senhora Aparecida, conseguimos salvar a Pátria, a Sociedade e a Família. Devemos, pois agradecer!”. 

Antes do dia marcado para ocorrer a marcha na cidade, também chamam a atenção publicações de um denominado Movimento Ativo Democrático (MAD). São várias as publicações em diversas edições do jornal Tribuna do Povo com anúncios sobre o momento político. No dia 22 de março, com o título “Os Patriotas”, o anúncio diz logo no parágrafo inicial: “Enquanto muitos cuidam de trabalhar honestamente, poucos fazem tudo para sufocar o Brasil. São poucos, mas são treinados por cubanos, russos e chineses; são os comunistas que querem a desgraça de nossa Pátria, para assumir o Poder, destruir a Família, a Religião e a Liberdade”.

Na coluna “Sociais”, da Tribuna do Povo do dia 26 de abril de 1964, são reveladas mais informações sobre a Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade ocorrida em Araras. “A tarde do último domingo, festiva e azulada, com rufar dos tambores da fanfarra em tom marcial, com o ar a tremular bandeiras pela nossa Praça Barão de Araras – faixas e mais faixas com alusivos dizeres sobre ‘A vitória da Democracia’ implantada em nosso Brasil no último dia 2 e o povo, ombro a ombro, caminhando na grande Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade se avolumando em massa no vale da Avenida Zurita, foi sem dúvida um espetáculo cívico impressionante, majestoso, autêntico, real e democrático”.

Na continuação do texto são relatadas as autoridades presentes que se manifestaram no evento. “Fizeram uso da palavra a exma. Sra. Leny de Oliveira Zurita, como representante da mulher ararense. Sr. Prof. Vicente Ferreira dos Santos, representante da nossa Câmara Municipal e como ex-combatente da Revolução Constitucionalista de 1932. Sr. Durval Bellatini, representante da classe operária. Srta. Elizabeth Franzini, representante da classe estudantil. Sr. Ver. Max Baruto. Sr. Dr. Paulo Marques Figueiredo Júnior, entusiastas fervorosos da grande massa. Sr. Dr. Fábio Meirelles, ilustre visitante, presidente da Faresp e S. Exa. o Ministro da Agricultura, Dr. Oscar Thompson Filho que se mostrou admirado da solenidade patriótica do nosso povo. Finalmente empunhando a bandeira, discursou nosso jovem prefeito sr. Ivan Estevan Zurita que, falando sobre a vitória da Democracia, com palavras de fé, esperança e feliz presságio, terminou sua alocução vibrante, solicitando a união da família, com Deus e com a Pátria”.    

Historiadores lembram que as marchas pelo país teriam sido organizadas por mulheres. Segundo o portal Opera Mundi, “passaram à história como as genuínas idealizadoras e promotoras da marcha organizações femininas e mulheres da classe média paulistana. No entanto, por trás deste aparente protagonismo feminino às vésperas do golpe que deu lugar a 21 anos de regime ditatorial, esconde-se um poderoso aparato financeiro e logístico conduzido por civis e militares que tramavam contra Jango”.

A atuação de alguns grupos femininos como “pontas-de-lança” da opinião pública contra o governo Goulart foi peça-chave na conspiração levada a cabo pelo complexo empresarial-militar do Ipês-Ibad (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais – Instituto Brasileiro de Ação Democrática). Destas instituições femininas, as principais eram: a carioca CAMDE (Campanha da Mulher pela Democracia) e as paulistas UCF (União Cívica Feminina) e MAF (Movimento de Arregimentação Feminina).

Conforme disseca a historiadora Solange Simões em seu livro Deus, Pátria e Família: As mulheres no golpe de 1964, “a inserção das mulheres na conspiração que resultou no golpe foi estratégica. Com o intuito de fomentar uma atmosfera de desestabilização política e convencer as Forças Armadas a intervir, as campanhas femininas buscavam dar ‘espontaneidade’ e ‘legitimidade’ ao golpismo, tendo sido as mulheres incumbidas — pelos homens — de influenciar a população".

Segundo o mesmo portal até o embaixador norte-americano no Brasil, Lincoln Gordon, notório por seu apoio ao golpismo, percebeu a falta de apoio popular no movimento, conforme relata a Washington em um telegrama de 2 de abril de 1964: “A única nota destoante foi a evidente limitada participação das classes mais baixas na marcha”. Seu espião militar no Brasil, o coronel Vernon Walter também atesta que, até a realização das passeatas, havia um receio de que o movimento para derrubar João Goulart fracassasse por falta de apoio popular.

 

Com informações do portal Opera Mundi (www.operamundi.com.br)

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Publicado em: 22/04/2014 14:34:00

Publicado por: Imprensa